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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O tricampeonato brasileiro

23.12.1979

Há exatos 38 anos, o Internacional ingressava no gramado do Beira-Rio para decidir o título brasileiro. A vantagem colorada era expressiva, pois como havia vencido o Vasco, no Maracanã, por 2x0, na partida de ida, podia perder até por dois gols de diferença que ficaria com a taça.

O Vasco, sabendo ter pela frente uma tarefa quase impossível, recorreu ao sobrenatural. Seu massagista, Pai Santana, recomendou que o time entrasse com o uniforme de mangas compridas, preto com a faixa branca. Isso em uma quente tarde do verão gaúcho (para quem não conhece o Rio Grande, aqui, quando é frio, é frio, mas quando é quente, é muito quente). A direção vascaína também apela para o lado material, oferecendo um elevado prêmio de 300 mil cruzeiros aos jogadores, caso conquistassem o título.

Nos primeiros minutos o Internacional joga mais cautelosamente, observando o adversário. Até parece que o Vasco vai conseguir jogar uma partida equilibrada. Mas logo o Colorado toma conta do jogo e domina seu adversário.

Aos 25’, Bira foi lançado, partiu em direção ao gol e da entrada da área disparou um chute por cobertura, obrigando Leão a espalmar para escanteio.

O Vasco tentou assustar, em jogada de Wilsinho, que bateu em um montinho artilheiro e complicou Benpitez, que fez uma defesa atrapalhada.

Pouco depois, escanteio para o Internacional. A zaga do Vasco rebateu para fora da área, mas Batista pegou o rebote e mandou uma bomba, obrigando Leão a fazer uma defesa difícil, em dois tempos.

Aos 40’, o Internacional saiu rápido de trás. Mário Sérgio lançou para o ataque, onde Bira levou a melhor na disputa de cabeça contra Gaúcho e Ivã, e tocou para Jair, que entrou por trás da zaga e apareceu livre na cara de Leão. O meia tranquilamente driblou o goleiro e chutou para as redes.

Aos 45’, o Internacional recuperou a bola no meio campo e trabalhou rápido. Mauro Galvão, Jair e Falcão, que lançou Bira. O atacante invadiu a área, driblou Leão mas perdeu o ângulo. Mesmo assim, cruzou para o centro da área, onde Falcão, de calcanhar, quase marcou um gol antológico. A bola bateu no tornozelo de Leão e quase passou entre as pernas do goleiro.

No 2º tempo, o Internacional voltou pressionaod fortemente o Vasco. Aos 7’, Valdomiro cobrou falta e acertou o poste esquerdo.

Aos 13’, Mário Sérgio lançou Cláudio Mineiro, que cruzou rasteiro para a área. Bira disputou a bola com Leão e o rebote sobrou para Falcão, que chutou forte, de primeira, no canto. Internacional 2x0! O Vasco precisaria fazer 5 gols para conquistar o título.

O Vasco começou a perder a cabeça. Após sofrer uma série de dribles de Mário Sérgio, o lateral Xaxá agrediu o atleta colorado com um pontapé, recebendo apenas cartão amarelo.

Aos 34’, Mário Sérgio faz grande lançamento, que deixa Bira e Chico Espina livres de cara para o gol. A bola ficou com Chico Espina, que não teve calma e da entrada da área chutou a gol, acertando a bola no goleiro vascaíno.

Aos 39’, Wilsinho arriscou de longe, um chute sem força, mas que pegou efeito, enganando Benítez, que foi mal no lance. Gol do Vasco. Mas não havia tempo para mais nada.


Quando o juiz José Favilli Neto apitou o fim da partida, Benítez estava com a bola. O goleiro entregou a bola ao juiz e, emocionado, deu-lhe um abraço. Aproveitando  a confusão, Bira deu um “peteleco” na bola, roubando-a do juiz e correndo para o vestiário colorado, escondendo-a em um armário.

O zagueiro reserva Beliato não havia disputado nenhuma partida na campanha colorada. Nos minutos finais da decisão, entrou em campo.

“Quase chorei quando seu Ênio mandou que eu entrasse. Por isso aquele abraço demorado no Mauro [Pastor], que saiu para me dar a vez e o gostinho de participar da festa de um jeito mais direto.”

Benítez havia tido um início de carreira no Brasil bastante complicado, no Internacional, em 1977, e no Palmeiras, em 1978. Voltou ao Colorado em 1979 e fechou o gol, mesmo tendo falhado na final.

“Eu vim para o Internacional desacreditado. Aqui, consegui me recuperar e mostrar que uma temporada ruim não deve abater ninguém, mesmo que seja goleiro.”

Falcão era o mais festejado de todos. Foi carregado em campo por alguns torcedores que enfrentaram os cães da Brigada e chegaram aos jogadores.

“Não há quem destacar. O título é de todos por igual, é do técnico que conseguiu aplicar um método de trabalho sério e dedicado, da torcida que jamais deixou de empurrar o time, de todos!”

(Entrevistas concedidas, na saída de campo, à Folha de São Paulo)


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